close

5 pregões de 2020 com lições para não esquecer

Os cinco dias mais importantes para o mercado em 2020 e os aprendizados que se pode tirar de momentos assim

Lições do mercado

Altos e baixos das bolsas

O ano de 2020 certamente entrará para a história do mercado financeiro. Desde o início do ano, novas informações sobre um vírus que se mostraria altamente transmissível foram levando a sucessivas revisões nas projeções de economistas e analistas de investimentos.

Os mercados derreteram e, posteriormente, se recuperaram. E, nesse trajeto, vários pregões contam a história do ano e deixam lições importantes para os investidores.

Em um ano tão atípico como 2020, seria possível identificar dezenas de pregões que ficarão para a história. As cinco jornadas a seguir são exemplos de dias de grandes mudanças no mercado, que deixam lições para quem deseja aprender a enfrentar situações semelhantes no futuro.

3/3 – O anúncio do Federal Reserve

Em janeiro, começaram a ganhar mais repercussão as preocupações com um vírus na China, com origem na cidade de Wuhan. Até então, as reações estavam concentradas no mercado asiático. Em fevereiro, conforme o mundo ocidental começava a relatar seus primeiros casos, os mercados ao redor do mundo entravam em alerta.

Algumas cidades europeias começaram a decretar o lockdown ainda no final de fevereiro. Mas foi em março que as medidas de restrição atingiram milhões de pessoas. E, no dia 3 de março, o banco central americano, o Federal Reserve, surpreendeu com uma medida não-convencional: foi realizada uma reunião extraordinária para cortar a taxa básica de juros em 0,5 ponto percentual, para o intervalo de 1% a 1,25% ao ano.

Essa foi a primeira vez desde a crise financeira de 2008 que o banco central americano se reuniu fora do seu calendário normal para anunciar medidas emergenciais. Dias depois, em 16 de março, foi realizada outra reunião extraordinária, desta vez levando os juros para o intervalo de 0% a 0,25% ao ano, taxa que permanece até o momento.

Nos dias e meses seguintes, foram revelados estímulos sem precedentes ao redor do mundo em uma tentativa de fazer frente aos impactos econômicos da crise nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia e no Brasil.

Em março, por exemplo, os Estados Unidos aprovaram um pacote fiscal de US$ 2,2 trilhões. Agora em dezembro, foi chancelado mais um pacote de US$ 900 bilhões. Os valores superam — e muito — os números vistos durante a crise de 2008.

Em momentos de crises internacionais, a história sugere que governos e autoridades monetárias tendem a reagir com grande empenho para oferecer apoio à economia e, na medida do possível, remediar a situação. Em 2020 não foi diferente, e a iniciativa do BC americano apenas inaugurou uma série de outras ações.

Por isso, os investidores devem evitar agir por impulso assim que as primeiras notícias são divulgadas, buscando reunir o máximo de informações para tomar uma decisão embasada.

Apesar dos fortes efeitos do novo coronavírus na economia, a enxurrada de liquidez é um dos fatores que contribuem para a recuperação dos mercados até o momento.

12/3 – O pior pregão do ano

Ainda no mês de março, é possível recordar diversas datas históricas para o mercado financeiro. Mas, no Brasil, o destaque fica para o dia 12.

Em 12 de março, o Ibovespa, o principal índice de ações da Bolsa, derreteu 14,78%, depois de acionar dois circuit breakers, o mecanismo de interrupção de negociações.

Como uma medida de proteção na tentativa de conter a volatilidade, o circuit breaker para os negócios quando o Ibovespa perde 10% no mesmo dia, sendo acionado novamente quando a queda atinge os 15%.

O terceiro circuit breaker seria acionado se a queda chegasse a 20%, o que quase aconteceu — o recuo no dia chegou a bater em 19,6%.

O mercado estava reagindo à confirmação de um cenário bastante negativo: na véspera, a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia declarado que o novo coronavírus se configurava, agora, como uma pandemia — ou seja, uma preocupação de saúde de escala global.

Embora as projeções tenham sido atualizadas posteriormente, à medida que os impactos da crise se tornavam mais claros para todo o mundo, uma mensagem passada no vídeo foi repetida à exaustão durante o ano: manter-se fiel aos objetivos de médio a longo prazo e evitar alterações significativas nas carteiras em momentos de pânico.

Os meses seguintes recompensaram quem manteve a calma: desde a pontuação mais baixa do Ibovespa, atingida em 23 de março, o índice já avança mais de 88%, considerando o fechamento de segunda-feira, 28 de dezembro.

8/6 – Bolsa americana zera perdas

O principal índice de ações da Bolsa de Nova York, o S&P 500, zerou as perdas do ano no início de junho, ainda que nos dias seguintes tenha retornado ao negativo, voltando à trajetória de alta apenas em julho.

No Brasil, a recuperação ocorreu em velocidade menor: as perdas foram zeradas em dezembro.

Ainda em 8 de junho, além de o S&P 500 ter retornado aos ganhos, o Nasdaq, índice conhecido por reunir algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, atingia uma nova máxima histórica — pontuação recorde que acabou sendo renovada sucessivas vezes ao longo do ano.

Um dos maiores aprendizados deste ano é a importância da diversificação geográfica nas carteiras.

Este é um modo de permanecer exposto a riscos e oportunidades diferentes daqueles presentes no mercado brasileiro. O mercado americano, por exemplo, teve uma queda menos intensa — 31% no auge da crise, frente a 45% do Ibovespa — e uma recuperação mais rápida, acumulando ganhos de cerca de 16% no ano, enquanto o mercado brasileiro está com alta próxima a 3,5%.

A forte desvalorização do real diante do dólar, próxima a 30% no ano, também nos lembra da importância de manter parte do portfólio dolarizado como medida de proteção contra eventuais crises.

Existem diferentes modos de se expor ao mercado americano, como os fundos de investimento, ETFs e, a partir de 2020, por meio dos BDRs, que são ativos lastreados em ações americanas. Os BDRs já estavam disponíveis para investidores qualificados, mas uma alteração nas regras em 2020 passou a permitir que o público geral também acesse esse mercado. Para saber mais sobre investimento em BDRs, confira estas orientações do Banco Safra.

25/9 – Renda fixa pode ficar negativa

O investidor brasileiro historicamente se acostumou a bons ganhos na renda fixa com baixo risco. Nos últimos anos, o comportamento veio passando por importantes mudanças, conforme a taxa Selic foi se adequando a um novo cenário.

Que a renda fixa passiva, aquela cujos rendimentos são atrelados ao CDI, eventualmente pode render menos que a inflação já havia ficado claro para alguns investidores.

O que muitos ainda não haviam experimentado era um rendimento negativo em um dos ativos mais conservadores da renda fixa: o Tesouro Selic, um título público do Tesouro Direto também conhecido como LFT.

Ainda que a desvalorização seja pequena quando comparada às oscilações da renda variável – a queda foi de 0,46% para o título com vencimento em 2025 no mês de setembro –, o movimento surpreende os investidores conservadores, uma vez que se trata de um ativo comum para a reserva de emergência.

A última vez que evento semelhante havia ocorrido com o Tesouro Selic remontava a 2002. Uma conjuntura de fatores levou à desvalorização do ativo, como incertezas fiscais e leilões de títulos do Tesouro Nacional com baixa demanda dos investidores.

Este é um lembrete de que até mesmo a renda fixa tem um componente variável. Vale notar que, se carrega os títulos até seu vencimento, o investidor recebe exatamente os valores acordados no momento em que aplicou os recursos. Mas, se negociar esses papéis no mercado secundário, o que vale é o preço de mercado, que oscila todos os dias.

Apesar de o tema ter ganhado relevância pela ótica negativa, é possível também capturar oportunidades por meio desses movimentos de mercado. Esse é o princípio da gestão ativa, adotada em muitos dos fundos de renda fixa do Banco Safra, por exemplo.

15/12 – Retomada no mercado brasileiro

Ao longo do ano, os economistas do Banco Safra reforçaram as expectativas de que o principal índice de ações da Bolsa, o Ibovespa, iria se recuperar e encerrar o ano no positivo. A projeção se concretizou perto do encerramento do ano, no dia 15 de dezembro.

O movimento se seguiu a uma forte recuperação nos mercados financeiros globais em novembro e dezembro, período em que algumas importantes incertezas saíram de cena, sendo as principais o processo eleitoral nos Estados Unidos e a comprovação da eficácia de algumas das principais vacinas em desenvolvimento. Na B3, o Ibovespa sobe mais de 27% desde o início de novembro.

Ainda que a imunização de toda a população não seja imediata, a expectativa por uma solução definitiva tem sustentado os ganhos em um mercado que tem sido impulsionado pela forte liquidez.

As crises não são eternas. É pouco provável que alguém consiga estimar o momento em que os ativos irão deixar de se desvalorizar e iniciar uma recuperação, mas a história demonstra que a tendência de médio a longo prazo é de retomada dos mercados após grandes choques.

Para 2021, a equipe de análises do Banco Safra projeta o Ibovespa aos 131 mil pontos.

Por isso, para o investidor, é importante estar preparado para lidar adequadamente com momentos como esses.

Além das dicas anteriores, como traçar e manter-se fiel aos objetivos de médio e longo prazo, diversificando o portfólio de acordo com seu perfil e evitando grandes mudanças na carteira em meio ao pânico, a crise de 2020 reforça a importância de manter uma reserva de emergência em ativos líquidos e seguros.

O nível da reserva é diferente para cada perfil de investidor, mas costuma-se sugerir algo entre 6 e 12 meses de despesas. Ela é essencial para lidar com os momentos mais agudos da crise com tranquilidade, sem a necessidade de resgatar investimentos em períodos de desvalorização.

Também é aconselhável manter uma reserva de oportunidade, ou seja, recursos em caixa para conseguir aproveitar chances pontuais nos mercados.

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra