Receita dos clubes brasileiros com patrocínios é a menor em 10 anos
Faturamento de times com grandes empresas atinge R$ 535 milhões em 2020, menor valor desde 2009. Palmeiras lidera a lista
21/06/2021Na contramão dos clubes europeus de futebol, os brasileiros têm faturado cada vez menos com patrocínios e chegaram à sua menor receita em dez anos.
No último ano, os times profissionais que disputaram a Série A do Campeonato Brasileiro (com exceção de Sport e Red Bull Bragantino), além de Cruzeiro e América-MG – que jogaram a Série B – faturaram R$ 535 milhões com patrocinadores.
O valor ficou abaixo do registrado entre 2010 e 2019, à frente apenas dos R$ 405 milhões faturados em 2009.
As informações constam em análise da consultoria Sports Value, que compilou dados de 2003 a 2020.
Receitas com patrocínios em 2020 – top 20 clubes brasileiros
Clube – Receita (em milhões de R$)
- Palmeiras – 115
- Flamengo – 95
- Corinthians – 71
- Cruzeiro – 33
- Grêmio – 33
- Internacional – 32
- Santos – 24
- Atlético-MG – 21
- Bahia – 18
- Vasco da Gama – 17
- São Paulo – 16
- Athletico-PR – 14
- Fluminense – 10
- Ceará – 8
- Fortaleza – 7
- Botafogo – 6
- Coritiba – 6
- Goiás – 4
- Atlético-GO – 4
- América-MG – 2
Participação dos patrocínios nas receitas
Em 2020, os patrocínios representaram 11% do faturamento total dos clubes brasileiros.
Na conta das receitas, entram os direitos de TV, bilheteria e vendas de jogadores, por exemplo.
Porém, em locais onde a modalidade é mais desenvolvida e profissionalizada, como na Europa, a participação do marketing esportivo em parceria com empresas é muito maior.
No Brasil, a fatia dos patrocínios no faturamento dos times chegou a ser de 18% em 2010 e 2011, percentual mais alto identificado pela análise.
“Hoje, o faturamento dos clubes cresceu com televisão, com venda de jogador e até com venda de jogador, mas despencou com patrocínio. Isso vai na contramão das lógicas dos Estados Unidos e da Europa, onde isso só cresce”, explica Amir Somoggi, sócio diretor da Sports Value.
Dentro deste contexto, houve impacto da pandemia de covid-19, com renegociação de diversos contratos devido à paralisação de campeonatos.
Segundo a consultoria, porém, a queda é uma tendência de médio e longo prazo. “A pandemia deu uma piorada, mas aqui vem piorando ano a ano”, pontua Somoggi.
Diferença entre brasileiros e europeus
O mercado de patrocínios aos clubes ao longo dos anos somente cresceu no futebol europeu.
No Velho Continente, os times movimentam mais de US$ 7,7 bilhões (R$ 38,6 bilhões) em marketing esportivo por ano, segundo a Sports Value.
Outros exemplos trazidos pela consultoria são dos campeonatos nacionais da Inglaterra e da Alemanha.
Os 20 times da Premier League, a primeira divisão profissional masculina inglesa, faturam US$ 1,9 bilhões (R$ 9,5 bilhões). Já os 18 times da Bundesliga, da Alemanha, US$ 1,6 bilhões (R$ 8 bilhões).
Por outro lado, os top 20 times do Brasil faturam menos do que outras ligas com torcidas significativamente menores, como as da Bélgica, Dinamarca e Portugal.
“Se você olhar a tendência, você percebe claramente uma queda no interesse de grandes marcas anunciantes no futebol brasileiro”, afirma Somoggi.
Fator extracampo
De acordo com a Sports Value, o movimento contrário às tendências dos grandes centros do futebol pode ser explicado em grande parte pelo o que acontece fora dos campos.
Recentemente, marcas como a empresa de serviços financeiros Mastercard e as fabricantes de bebidas Ambev e Diageo decidiram não expor suas marcas na Copa América.
A competição seria originalmente realizada na Colômbia e na Argentina, mas condições políticas no primeiro país e de saúde sobre a pandemia no segundo os fizeram desistir de serem sedes.
Com quase 500 mil mortes pela covid-19, o Brasil aceitou receber a competição, o que gerou uma onda de críticas à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) e à confederação brasileira (CBF).
A entidade nacional, inclusive, vive dias turbulentos com o afastamento de seu presidente, Rogério Caboclo, devido acusações de assédio moral e sexual à própria secretária.
“É o que eu chamo do fator extracampo. Todos os times ficam preocupados com a audiência e exposição de marca, mas se esquecem que as polêmicas e notícias negativas afetam diretamente nosso mercado”, diz Somoggi.