Carros elétricos chineses avançam no mercado global
China, impulsionada pela BYD, lidera vendas no mundo; entidades dos EUA e União Europeia apontam concorrência desleal
14/03/2024Quando os esforços do governo chinês se voltaram para a produção de energias renováveis no início do milênio, a montadora local BYD sentiu que seu momento de tornar-se uma gigante havia batido à porta. As baterias fabricadas pela então novata no mercado seriam os propulsores dos veículos elétricos do futuro. Hoje, mais de duas décadas depois, a greentech é líder da poderosa indústria da China e desperta preocupações comerciais ao redor do mundo.
O cenário é ainda mais promissor para montadoras chinesas quando são observadas algumas projeções de mercado. A Agência de Energia Internacional (IEA), por exemplo, calcula que os veículos elétricos serão a maioria de vendas já em 2030, com 60% de participação, se o ritmo de crescimento exponencial dos últimos anos seja mantido.
Onda chinesa causa “estado de choque” global
No início dos anos 2000, a China procurava criar domínios de mercados. Um dos setores com subsídios e benefícios fiscais fornecidos pelo governo foi o de produção de energias renováveis. Atualmente, a China lidera a produção mundial de veículos elétricos, em grande parte graças à BYD, que vendeu três das cinco milhões de unidades elétricas chinesas em 2023.
Os EUA, com uma sólida e histórica indústria automotiva e um dos principais mercados consumidores de automóveis do mundo, acompanham esses movimentos de perto – e com temores. Uma eventual consolidação do domínio global chinês em veículos elétricos é foco de discussão e de cobranças de entidades americanas.
Um agravante para a indústria dos EUA é que a BYD pretende seguir um caminho já traçado anteriormente por outras montadoras chinesas, como a Chirey: abrir fábricas no México. Atualmente, há um acordo para que carros fabricados no vizinho do sul não paguem tarifas para serem comercializados em solo americano. Segundo levantamento da Reuters, a montadora chinesa já busca localidades para construir uma nova estrutura.
A Alliance for American Manufacturing (AAM) tem alertado o governo americano sobre essa rota comercial. A organização, que defende ações para criar empregos industriais nos EUA, chegou a enviar sugestões ao Presidente Joe Biden, como a implantação de incentivos financeiros de até US$ 7.500 na compra de veículos elétricos fabricados em solo americano e uma fiscalização maior sobre carros isentos fabricados no México.
A AAM aponta o custo de mão-de-obra mexicana, que tem um valor que equivale a 12% do que é pago aos americanos. A entidade vê risco de extinção de negócios automotivos em território americano com o atual cenário de competição.
Michael Dunne, executivo-chefe da Dunne Insights, uma consultoria automotiva especializada no mercado asiático, tem uma visão alinhada. “Ninguém pode igualar a BYD em preço e ponto final. As salas de conselhos na América, Europa, Coréia do Sul e Japão estão em estado de choque.”, disse em entrevista este ano ao Financial Times.
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O governo americano já tomou e pretende tomar outras ações concretas. Após pressões internas, elevou o imposto sobre carros elétricos chineses de 2,0% para 27,5% em 2018. Há também uma investigação da administração Biden em andamento liderada pelo Departamento de Comércio dos EUA sobre a segurança das informações compartilhadas com carros elétricos chineses.
“Práticas comerciais desleais” são citadas na Europa
No velho continente, o mercado da BYD é ainda mais turbinado pelo cenário de inflação e crise energética local. Em apenas quatro anos, veículos chineses de todas as marcas elevaram sua participação de 0,1% para quase 10% da frota em ruas europeias.
A Comissão Europeia, sob a presidência de Ursula von der Leyen, criou uma organização para avaliar se a concorrência de carros elétricos vindos da China é desleal, tendo em vista os subsídios fornecidos pelo governo local.
Entre as possibilidades discutidas para brecar a onda, são consideradas políticas protecionistas para fabricantes da União Europeia, evitando que veículos eléctricos chineses importados e mais baratos dominem o mercado.
No foco da discussão, BYD é opção de investimento
Com capital aberto, a greentech líder de vendas globais é uma alternativa de investimento parta diversificação internacional. O bom momento em vendas e projeções jogam a favor da marca, mas os impasses internacionais, riscos inerentes da indústria automotiva e as atuais questões econômicas da China – como consumo tímido e a alongada crise imobiliária – podem trazer desafios às ações.
Neste cenário, há investimentos que oferecem possibilidade de ganho na alta do ativo e, paralelamente, capital protegido e blindagem do investidor em questões cambiais.
É o caso do fundo de investimentos J Safra Veículos Elétricos, do Banco Safra, exclusivo para clientes da instituição e que faz parte da família de produtos J Safra Global Solutions. O investimento é atrelado às ações da BYD (BYD CO LTD-H [1211 HK Equity]) e conta com um limitador no ganho na alta do ativo em 130%.
No Certificado de Operações Estruturadas (COE), que tem capital garantido em caso de desvalorização das ações e proteção cambial, o cliente ganhará o percentual de alta do ativo com rentabilidade máxima de 30% no período de 24 meses a partir da emissão. Na estratégia, a variação da moeda americana não afeta a rentabilidade do produto.
Incentivos na China seguem na pauta
A China introduziu, em 2018, um sistema baseado em créditos para incentivar a produção de veículos elétricos. O sistema estabelece requisitos para que montadoras alcancem um nível de créditos de veículos de novas energias (NEV, na sigla em inglês) para conquistar incentivos.
A depender de condições como alcance e eficiência energética, os créditos NEV tem valores mais elevados. Players com capacidade técnica superior, como a BYD, levam vantagem sobre competidores dependentes de subsídios do governo para sobreviver.
As ações de incentivo são contínuas e vão desde dedução de impostos até o fomento à pesquisa e desenvolvimento do setor. Recentemente, o governo chinês ofereceu isenções fiscais a veículos elétricos no valor de US$ 72,3 bilhões por quatro anos – o maior incentivo do gênero já fornecido.