close

O sucesso do Flamengo nos Jogos Olímpicos de Tóquio

Clube carioca ajudou o Time Brasil com quatro medalhas em Tóquio 2020 e investe R$ 38 milhões por ano com modalidades olímpicas

Rebeca Andrade, atleta do Flamengo, sentada em ginásio com suas duas medalhas de ouro e prata de Tóquio 2020

Com ouro e prata na ginástica, Rebeca Andrade é uma das sete atletas do Flamengo que estiveram nas Olimpíadas de Tóquio | Foto: Daniel Ramalho/COB

O êxito dos últimos anos visto com o time de futebol masculino profissional do Flamengo se torna cada mais frequente para outras modalidades dentro do clube.

Prova disso é que das 21 medalhas conquistadas pelo Time Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quatro foram de atletas flamenguistas.

A ginasta Rebeca Andrade trouxe um ouro e uma prata para o Brasil; na canoagem, Isaquias Queiroz foi campeão olímpico; e no vôlei, a ponteira Ana Cristina junto com a seleção brasileira conquistou a prata.

De acordo com o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), o Flamengo foi o que clube formador que mais apoiou o Brasil no quadro de medalhas.

No entanto, o sucesso nas Olimpíadas vem de quase uma década de reestruturação e busca por recursos a modalidades além do futebol.

Hoje, o clube do Rio de Janeiro tem um orçamento anual de R$ 38 milhões para o departamento de esportes olímpicos, investindo em infraestrutura, tecnologia e educação.

Campeão olímpico na canoagem C1 1000m, homenageado pelo Flamengo | Foto: Paula Reis/Flamengo
Campeão olímpico na canoagem C1 1000m, homenageado pelo Flamengo | Foto: Paula Reis/Flamengo

Por mais que a paixão máxima do brasileiro domine os investimentos no País, a visão do clube carioca é a de que estar presente em outros esportes gera valor, tanto à marca quanto à sociedade. Desde 1932, o rubro-negro carioca sempre enviou algum representante às Olimpíadas.

Para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, que se iniciam em 24 de agosto, enviará três atletas – Michel Pessanha e Diana Barcelos (remo) e Caio Ribeiro (canoagem), além do técnico do remo, Fred Mallrich.

“O presidente de um clube tem que entender que esse apoio é muito importante para a instituição que ele preside. O esporte olímpico não é só para um período de quatro anos. Entendemos que deve-se buscar a autossustentabilidade e resultados a longo prazo”, diz Marcelo Vido, diretor de esportes olímpicos do Flamengo.

Modalidades do Flamengo

Depois do rubro-negro carioca, outros clubes de quatro Estados (Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo) se destacaram nos Jogos de Tóquio:

  • Esporte Clube Pinheiros/SP, Minas Tênis Clube/MG e Sociedade de Ginástica Porto Alegre/RS (2 medalhas cada);

  • Club Athletico Paulistano/SP, Rio Yacht Club/RJ, e Unisanta/SP (1 medalha cada).

No levantamento acima divulgado pelo CBC, não entram os clubes de futebol que mandaram os atletas bicampeões olímpicos para Tóquio.

Foram ao Japão ao todo nove profissionais do Flamengo. Destes, foram sete atletas de ponta, duas mais jovens para a preparação da equipe brasileira de judô, além da coordenadora da modalidade e, por fim, um médico para o vôlei.

Equipe de polo aquático sub-17 do Flamengo: 44% dos atletas de base do clube vivem em comunidades carentes do Rio de Janeiro | Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
Equipe de polo aquático sub-17 do Flamengo: 44% dos atletas de base do clube vivem em comunidades carentes do Rio de Janeiro | Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Atualmente, o Flamengo tem 800 atletas federados em nove modalidades olímpicas (ginástica artística, nado artístico, remo, canoagem, natação, polo aquático, basquete, vôlei e o judô) e duas paralímpicas (remo e canoagem).

Segmentando, são 650 atletas em categorias de base e outros 150 de ponta. A única modalidade onde não há o feminino é o basquete.

Educação à frente

Mais do que gerar atletas de alto rendimento, o investimento no esporte tem como objetivo ser uma ferramenta de educação e saúde.

Segundo Marcelo Vido, 286 atletas da base (44% do total) vivem em comunidades carentes do Rio de Janeiro e mais de 420 (65%) não têm acesso a um convênio médico.

Dentro do clube, eles são acompanhados por médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos da área chamada Cuidar – Centro Unificado de Identificação e Desenvolvimento do Atleta de Rendimento.

São 25 os profissionais que compõem o Cuidar, onde entram também analistas científicos e de sistemas.

Além disso, a educação é priorizada, uma vez que são investidos anualmente R$ 2 milhões com bolsas de estudo de colégio e faculdade para os atletas.

“A educação tem que andar não junto, mais sempre à frente do esporte. Você nunca deixa de estudar”, diz Vido.

Inteligência Artificial no radar

Cada vez mais a inteligência artificial (IA) faz parte dos processos em diversos setores. E no esporte, não é diferente.

No caso do Flamengo, Vido conta que a IA será usada a partir de outubro na liga nacional de basquete – Novo Basquete Brasil, o NBB -, na análise de desempenho dos jogadores e apoio nas tomadas de decisão do técnico Gustavinho.

Marcelo Vido, diretor de esportes olímpicos do clube carioca | Foto: Reprodução/LinkedIn
Marcelo Vido, diretor de esportes olímpicos do clube carioca | Foto: Reprodução/LinkedIn

Por outro lado, a tecnologia também servirá para o engajamento dos torcedores, tanto de forma presencial quanto remota.

O projeto é desenvolvido desde o fim de 2019 com a Pontifica Universidade Católica (PUC-RJ) e com uma startup dos Estados Unidos. Os detalhes serão conhecidos no segundo semestre.

Adicionalmente, o projeto de IA pode vir a se tornar uma nova fonte de receita para o Flamengo.

“Com essa tecnologia no basquete, a gente possibilita que outros clubes também possam vir a ter acesso ao produto e, consequentemente, a gente pode ganhar um royaltie ou participação em cima disso”, explica Vido.

Fontes de financiamento do Flamengo

Há oito anos comandando os esportes olímpicos do Flamengo, Marcelo Vido ajudou na reestruturação financeira do clube, que no início dos anos 2010 sofria com altas dívidas, baixas receitas e inadimplência junto aos atletas.

Por isso, foi iniciado um trabalho com base em três pilares: infraestrutura, processos e pessoas.

“Precisávamos de um clube autossustentável, não só do ponto de vista financeiro, mas também na área de equipamentos em geral, boas piscinas, bons ginásios, barcos e estrutura de suporte”.

Nesse sentido, foi essencial que o clube conseguisse, em 2013, suas Certidões Negativas de Débitos (CND) – documento que comprova que não há débitos entre o clube e órgãos públicos.

À época, o futebol seria patrocinado pela Caixa Econômica Federal e precisava da comprovação.

A partir disso, a instituição passou a buscar fontes diversas para investir em suas modalidades, sem depender do carro-chefe, o futebol.

Saiba mais

Sendo assim, o Flamengo chegou em 2021 com sete fontes de recursos, como leis de incentivo fiscal de âmbito estadual e federal, recursos do CBC, patrocínios diretos e bilheteria, por exemplo.

Porém, novas fontes estão em vista. Uma delas é licenciamento da metodologia de treinamento de quatro modalidades: basquete, vôlei, natação e judô.

O projeto piloto, segundo Vido, deve entrar em funcionamento ainda neste semestre.

“Nós precisamos aumentar o nosso financiamento. Sabemos que cada vez mais não dependermos do futebol é melhor. É um desafio muito grande”, afirma Vido.

Clube com marca de alcance intercontinental, o Flamengo tem um planejamento de longo prazo que pode ser usado como espelho para outros clubes do Brasil que não conseguem dividir bem o investimento entre o futebol e outros esportes.

“Tem que se realizar o investimento de forma responsável. Não adianta querer ser campeão a qualquer custo. Tem que ser de uma forma que os atletas e os funcionários sejam felizes com a instituição”, diz Vido.

Abra sua conta

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra