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Copom eleva Selic a 12,75% ao ano; juros sobem também nos EUA

Taxa Selic é reajustada pela 10ª vez consecutiva na tentativa do Banco Central de conter a alta da inflação; Federal Reserve também age contra a inflação

Copom de maio

A dúvida do mercado financeiro é sobre a extensão do atual ciclo de alta de juros e sobre uma nova alta em junho | Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual.  Com isso, os juros referenciais no Brasil passam a ser 12,75% ao ano. Foi a 10º alta seguida da taxa básica de juros dentro do esforço para tentar conter a inflação. No mesmo dia, o Federal Reserve, dos Estados Unidos, também elevou os juros dentro da estratégia de combater a inflação que afeta o mercado global, após os efeitos da pandemia e consequências da guerra na Ucrânia.

O comunicado oficial da decisão indica uma nova alta “de menor magnitude” na próxima reunião, em junho, mas confirma um ciclo de aperto monetário mais longo que o previsto: “Diante das projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, diz a nota. Com a alta definida pelo Copom a Selic alcançou o maior patamar desde fevereiro de 2017, quando os juros chegaram a 13% ao ano.

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O Copom ressaltou que as pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com os problemas de oferta relacionados com a nova onda de covid-19 na China e da guerra na Ucrânia. Além disso, frisou os efeitos para emergentes da política monetária em países avançados. “A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes”, disse, no comunicado.

Além disso, o colegiado considerou que a inflação doméstica continua “surpreendendo negativamente”, tanto em itens voláteis quanto no relacionado à inflação subjacente. “As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, repetiu, como na reunião de março.

Juros sobem também nos Estados Unidos

Depois de realizar o primeiro aumento em quatro anos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) elevou nesta quarta-feira, 4, o intervalo da taxa de juros do país para 0,75% e 1%.

O aumento sobre o intervalo anterior, que foi definido em março, é de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) e representa a maior elevação para os juros americanos desde o ano 2000.

No Brasil, a prévia da inflação oficial de abril medida pelo IPCA-15 ficou em 1,73%, 0,78 ponto percentual acima da taxa de março (0,95%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,31% e, em 12 meses, de 12,03%. Em abril de 2021, a taxa foi de 0,60%. A dúvida do mercado é sobre a duração do atual cicclo de aperto monetário, com a possibilidade de nova alta em junho.No último boletim Focus, em que o BC mede a expectativa do mercado financeiro, a projeção é de que a taxa básica encerre 2022 em 13,25% ao ano. As estimativas do mercado para a inflação, entretanto, vêm crescendo há pelo menos 16 semanas.

Para Fabio Louzada, economista, a alta nesta quarta-feira já estava precificada pelo mercado a grande incógnita é se o ciclo de alta deverá permanecer por mais tempo. “Na ata da última reunião, já começava a ser previsto o fim do aperto monetário e, acredito que isso vai começar a se reverter por vários fatores.” 

Segundo ele, o motivo mais forte é uma postura mais hawkish do Federal Reserve que aumentou os juros nos Estados Unidos em 0,5 p.p nesta quarta-feira. Agora o intervalo dos juros americanos é de 0,75% e 1% ao ano.

“E qualquer alta nos juros americanos impacta as economias do mundo todo, inclusive no Brasil”, disse Louzada. “Não tem como o Brasil decidir pelo fim do aperto monetário se EUA continuarem subindo forte a taxa de juros.”

Inflação em alta deve ser considerada na próxima reunião do BC

Outro fator, de acordo com Louzada, é a inflação que continua em alta e é persistente no Brasil. “E a forma de conter preços ainda é manter as taxas de juros altas porque freia a demanda e o consumo”, disse. “Isso vai pesar na decisão do Banco Central, que dificilmente vai bancar o fim do aperto pensando na inflação alta”, ressaltou o economista que acredita que a Selic deverá fechar o ciclo de alta em 13,50%.

Para ele, o Brasil não deverá entrar no contraciclo de corte de juros até o fim do ano, pois, a Europa também já considera o aperto monetário para conter a alta da inflação. “Mas se isso acontecer e BC manter na ata a intenção de diminuir os juros, isso com certeza vai ter efeito no fluxo estrangeiro na bolsa”, afirmou.

Em abril, por exemplo, o saldo de investimento estrangeiro foi negativo em R$ 7,67 bilhões, segundo dados copilados pela B3 até o dia 29 de abril. No ano, o fluxo está positivo em R$ 60,68 bilhões.

“Estamos passando por ano de eleições e há instabilidade política”, ressaltou Louzada. “Com redução de juros, instabilidade política e mundo subindo juros, a tendência é entrar menos dinheiro no Brasil.”

Banco Central deve manter ciclo de alta da Selic

Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, apesar desta alta na Selic, o fim deste ciclo está próximo. “Mas não considero que isso ocorra na próxima reunião”, disse Jorge.

“As recentes surpresas inflacionárias causadas pela alta do petróleo e outras commodities, por causa da guerra na Ucrânia e Covid-19, acenderam novas preocupações sobre o tema, inclusive para a meta de inflação de 2023.”

Jorge acrescentou que o mais provável é que o Copom indique mais uma alta de menor intensidade para a reunião de junho, terminando o ciclo entre 13% e 13,50% caso o cenário inflacionário não se deteriore ainda mais. “Até o fim do ano, devemos esperar a Selic entre 13% e 13,50%, projeção atual do mercado.” (Com AE)

Íntegra do comunicado do Copom

Em sua 246ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,75% a.a.

A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

  • O ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia. A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes;
  • Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento em linha com o que era esperado pelo Comitê;
  • A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
  • As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
  • As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,9% e 4,1%, respectivamente; e
  • No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95*,­ evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Optou-se por manter a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023. As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,4% para 2022 e 5,7% para 2023. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes. 

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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