Economia global desacelera e juro só cai no Brasil no 2º semestre de 2023
Relatório do Banco Safra apresenta um panorama na economia nos próximos meses no Brasil e no mundo e opções de investimento
05/10/2022A atividade mundial apresentará desempenho modesto nos próximos trimestres, pois a forte pressão inflacionária levará diversos bancos centrais a aumentar as suas taxas básicas de juros para patamar restritivo. Nos EUA, o mercado de trabalho segue apertado e os salários subiram 5,2% nos últimos doze meses, o que contribuiu para o aumento da inflação anual para 8,3%. Mesmo excluindo alimentação e energia, o índice de preços subiu 6,3%, o que levou o Fed a aumentar a taxa de juros em 0,75p.p. no mês passado, para o intervalo entre 3,00% e 3,25% ao ano.
Acreditamos que a elevação da taxa de juros para 4,50% ao ano no início do próximo ano, a redução do balanço de ativos do banco central e o aperto fiscal prejudicarão a demanda interna e, consequentemente, suportam a nossa estimativa de retração do PIB real americano em 0,5% em 2023.
Na zona do Euro, a taxa de desemprego recuou para o menor patamar histórico e a inflação acumulada em doze meses chegou a 10% em setembro, substancialmente acima da meta de 2%. A pressão de preços está mais difusa entre os diversos setores, incluindo serviços e bens industrializados.
A necessidade de racionalização no uso do gás poderá prejudicar a capacidade de produção e, consequentemente, aumentar as pressões inflacionárias. A elevação das expectativas de inflação para o médio prazo reforça a necessidade de continuidade do ciclo de aperto monetário pelo Banco Central Europeu, o que prejudicará o desempenho da atividade no próximo ano.
No Reino Unido, o anúncio de um amplo estímulo fiscal beneficiará a demanda doméstica em um ambiente de restrição de oferta de mão de obra, o que aumenta a resistência dos núcleos de inflação em patamar elevado. Assim, o banco central britânico também precisará levar a taxa de juros para terreno restritivo.
Na China, a queda das vendas e dos preços de imóveis prejudicam o setor de construção civil. As incertezas geradas pelas medidas de isolamento social e o desaquecimento dos principais parceiros comerciais também pesam sobre a atividade do país. Dessa forma, a economia mundial deverá arrefecer nos próximos trimestres.
Desaceleração global afeta a economia brasileira
A atividade econômica brasileira foi impulsionada pela maior interação social e medidas fiscais no primeiro semestre, o que beneficiou o mercado de trabalho. A expansão da população ocupada permitiu que a taxa de desemprego diminuísse para 8,8% em agosto, com ajuste sazonal.
Importante destacar a redução da produtividade média do trabalho nos últimos trimestres, o que antecipa uma menor expansão do emprego para os próximos meses. Além disso, os efeitos defasados do ciclo de aumento da taxa básica de juros sobre a
demanda doméstica devem ficar mais evidentes nesse semestre. Assim, projetamos crescimento do PIB real de 2,5% em 2022 e 1,0% em 2023.
A inflação tem diminuído com as medidas tributárias, a queda do preço das commodities e a menor pressão nas cadeias de produção. O IPCA acumulado doze meses passou de 12,1% em abril para 8,7% em agosto, e estimamos que atingirá 5,7% em dezembro desse ano. Nossa projeção de inflação ao consumidor em 5,2% para o próximo ano inclui as hipóteses de taxa de câmbio em R$ 5,35 por dólar, preço do petróleo em USD 100 por barril e o retorno do PIS/Cofins sobre combustíveis. Se não
houver aumento do imposto federal sobre combustíveis, o IPCA poderá ficar em torno de 4,6% em 2023, dentro da banda de flutuação da meta.
Dessa forma, o Banco Central Brasileiro deverá manter a taxa Selic no atual patamar restritivo de 13,75% ao ano até o segundo trimestre do próximo ano, quando as projeções de inflação para o horizonte relevante da autoridade monetária permitirão o início do ciclo de afrouxamento monetário, com efeitos positivos sobre a atividade econômica em 2024.