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‘Mulheres Empreendedoras’ coloca a representatividade em foco

Fundadora da rede Mulher Empreendedora e diretora de ESG e Marketing do Safra debatem sobre o cenário desafiador para as mulheres que abrem o próprio negócio no Brasil

Encontro sobre empreendedorismo feminino pode ser assistido na íntegra pelo canal do Safra no YouTube

Levadas ao empreendedorismo muitas vezes por necessidade no Brasil, as mulheres precisam de uma desconstrução social e de mais iniciativas que “falem de dinheiro na linguagem das mulheres e não na dos homens”.

Essa é a leitura de Ana Fontes, fundadora da rede Mulher Empreendedor, que participou de debate promovido pelo Banco Safra nesta quarta-feira, 16.

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Conduzida pela diretora da ESG e Marketing do Safra, Bia Galloni, o encontro Mulheres Empreendedoras abordou o cenário desafiador que elas têm para empreender no País.

Os desafios vão desde o processo forçado de entrada no empreendedorismo, sem a devido preparação, até o pouco acesso ao capital e o machismo.

“As mulheres têm menos acesso aos recursos financeiros, seja crédito, investimento-anjo, fundo de investimento. Tem uma combinação de construção social nesse sentido, porque o território do dinheiro sempre foi masculino. Elas não se identificavam nesse território e achavam que não pertenciam a ele. E desde o início somos criadas, não para cuidar do dinheiro, mas para cuidar dos outros”, explicou Fontes.

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Idioma do dinheiro para elas

Há 12 anos à frente da rede, a empreendedora social trouxe dados que corroboram o panorama mencionado.

Segundo ela, 80% das mulheres não cuidam do dinheiro do próprio negócio e delegam a tarefa, geralmente, a homens, que podem ser sócios, maridos ou algum outro familiar. "Se só homens ensinam e falam sobre dinheiro, isso acaba mostrando que o dinheiro não é pra mim. Isso faz com que tenhamos medo".

Além disso, mais de 90% dos investimentos-anjo - aportes de investidores em empresas em estágio inicial - atualmente vão para negócios criados por homens.

"Um dos itens que a gente ensina com firmeza na rede é que o dinheiro é o território dela, é importante ela entender de educação financeira, do fluxo de caixa dela, porque se não o negócio dela fecha. A gente está construindo uma história para que as mulheres se sintam confortáveis nesse território", afirmou Fontes.

Galloni apresentou dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que ilustram a construção social a ser quebrada. Um exemplo é o tempo dedicado por elas aos negócios, que chega a ser 17% menor do que o dos homens.

"Hoje, 49% das empreendedoras são chefe de familia e muitas têm jornadas dupla, tripla, tendo que cuidar dos filhos, da casa e do próprio negócio. As mulheres representam 46% dos empreendimentos que estão começando agora e o fato de elas terem essa dupla jornada faz que elas tenham que se dedicar menos ao negócio", disse a diretora do Safra.

Estímulo ao investimento nelas

Na visão de Fontes, o caminho para que investidores apoiem as mulheres empreendedoras está nas políticas públicas.

Porém, ações da iniciativa privada ajudam a diminuir esse atraso sobre o tema. Somente entre 2020 e 2021, a Mulher Empreendedora distribuiu R$ 35 milhões em recursos a milhares de mulheres em todo o Brasil.

Isso ocorreu graças a programas de renda, como o Heróis usam Máscara, que remunerou 6.500 mulheres por três meses no início da pandemia de covid-19 pela produção de máscaras de proteção.

Além disso, foram realizados programas de capacitação e aceleração de empresas fundadas por elas e que chegaram a receber R$ 10 mil de investimento.

Adicionalmente, o mundo empresarial precisa se atentar aos movimentos diários de isolamento das mulheres do ambiente de negócios.

"Até 2018, eu fazia muita banca de apresentação de negócios, pitchs, e era muito comum ter seis homens e eu. Hoje deixamos muito claro que isso não é aceitável. Já vi muitas vezes perguntas sexistas do tipo, 'mas você pretende engravidar?' e 'ah, mas como você vai cuidar da família e dos filhos?'. E aí eu perguntava em seguida à banca, 'vocês perguntam isso para os homens também?'".

Importância dos exemplos

A rede Mulheres Empreendedoras surgiu depois que Ana Fontes participou de um programa da Fundação Getúlio Vargas voltado às mulheres e cujo processo, extremamente concorrido, deixou para trás muitas candidatas.

Disposta a mudar esse panorama, ela criou a rede que, inicialmente, era um blog dedicado à tirar dúvidas de empreendedoras e aspirantes de todo o Brasil. Logo, Fontes se viu atendendo, como mentora, cerca de 700 mulheres por ano.

Nesse sentido, ela destacou a importância de figuras femininas na liderança se disporem ao processo de mentoria para inspirar e engajar toda uma comunidade.

"Mentoria é uma via de mao dupla. Quando você vê a empreedora aplicando o que você ensinou, você tem muitos aprendizados com as histórias de histórias de negócio. Você entende na pele qual é a reliadade, quais são as dificuldades e o que realmente pega no negócio", disse Fontes.

Por fim, Galloni e Fontes ressaltaram que o benefício de investir nas mulheres empreendedoras vai muito além dela mesma, mas sim a todos que estão em seu entorno.

"Tem muita oportunidade para que nós enquanto sociedade e organizações, apoiemos mais o empreendedorismo feminino. O retorno vai ser muito bom. A maioria cresce, aproveita os recursos, investe e traz mais resultados", afirmou Galloni.

"Quando uma mulher dá certo, a mulher do lado dá certo também, os filhos ficam melhores e a comunidade vai melhorar", completou Fontes.

Sobre a rede Mulher Empreendedora

A rede é a maior de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil. Existe desde 2010 e já beneficiou mais de 9 milhões de mulheres.

Nesse sentido, a rede promove programas de aceleração, cursos de capacitação e eventos de apoio para quem quer empreender.

Além disso, a rede conta com um marketplace com quase 1.700 empresas cadastradas.

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