‘Mulheres Empreendedoras’ coloca a representatividade em foco
Fundadora da rede Mulher Empreendedora e diretora de ESG e Marketing do Safra debatem sobre o cenário desafiador para as mulheres que abrem o próprio negócio no Brasil
16/03/2022Levadas ao empreendedorismo muitas vezes por necessidade no Brasil, as mulheres precisam de uma desconstrução social e de mais iniciativas que “falem de dinheiro na linguagem das mulheres e não na dos homens”.
Essa é a leitura de Ana Fontes, fundadora da rede Mulher Empreendedor, que participou de debate promovido pelo Banco Safra nesta quarta-feira, 16.
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Conduzida pela diretora da ESG e Marketing do Safra, Bia Galloni, o encontro Mulheres Empreendedoras abordou o cenário desafiador que elas têm para empreender no País.
Os desafios vão desde o processo forçado de entrada no empreendedorismo, sem a devido preparação, até o pouco acesso ao capital e o machismo.
“As mulheres têm menos acesso aos recursos financeiros, seja crédito, investimento-anjo, fundo de investimento. Tem uma combinação de construção social nesse sentido, porque o território do dinheiro sempre foi masculino. Elas não se identificavam nesse território e achavam que não pertenciam a ele. E desde o início somos criadas, não para cuidar do dinheiro, mas para cuidar dos outros”, explicou Fontes.
Idioma do dinheiro para elas
Há 12 anos à frente da rede, a empreendedora social trouxe dados que corroboram o panorama mencionado.
Segundo ela, 80% das mulheres não cuidam do dinheiro do próprio negócio e delegam a tarefa, geralmente, a homens, que podem ser sócios, maridos ou algum outro familiar. "Se só homens ensinam e falam sobre dinheiro, isso acaba mostrando que o dinheiro não é pra mim. Isso faz com que tenhamos medo".
Além disso, mais de 90% dos investimentos-anjo - aportes de investidores em empresas em estágio inicial - atualmente vão para negócios criados por homens.
"Um dos itens que a gente ensina com firmeza na rede é que o dinheiro é o território dela, é importante ela entender de educação financeira, do fluxo de caixa dela, porque se não o negócio dela fecha. A gente está construindo uma história para que as mulheres se sintam confortáveis nesse território", afirmou Fontes.
Galloni apresentou dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) que ilustram a construção social a ser quebrada. Um exemplo é o tempo dedicado por elas aos negócios, que chega a ser 17% menor do que o dos homens.
"Hoje, 49% das empreendedoras são chefe de familia e muitas têm jornadas dupla, tripla, tendo que cuidar dos filhos, da casa e do próprio negócio. As mulheres representam 46% dos empreendimentos que estão começando agora e o fato de elas terem essa dupla jornada faz que elas tenham que se dedicar menos ao negócio", disse a diretora do Safra.
Estímulo ao investimento nelas
Na visão de Fontes, o caminho para que investidores apoiem as mulheres empreendedoras está nas políticas públicas.
Porém, ações da iniciativa privada ajudam a diminuir esse atraso sobre o tema. Somente entre 2020 e 2021, a Mulher Empreendedora distribuiu R$ 35 milhões em recursos a milhares de mulheres em todo o Brasil.
Isso ocorreu graças a programas de renda, como o Heróis usam Máscara, que remunerou 6.500 mulheres por três meses no início da pandemia de covid-19 pela produção de máscaras de proteção.
Além disso, foram realizados programas de capacitação e aceleração de empresas fundadas por elas e que chegaram a receber R$ 10 mil de investimento.
Adicionalmente, o mundo empresarial precisa se atentar aos movimentos diários de isolamento das mulheres do ambiente de negócios.
"Até 2018, eu fazia muita banca de apresentação de negócios, pitchs, e era muito comum ter seis homens e eu. Hoje deixamos muito claro que isso não é aceitável. Já vi muitas vezes perguntas sexistas do tipo, 'mas você pretende engravidar?' e 'ah, mas como você vai cuidar da família e dos filhos?'. E aí eu perguntava em seguida à banca, 'vocês perguntam isso para os homens também?'".
Importância dos exemplos
A rede Mulheres Empreendedoras surgiu depois que Ana Fontes participou de um programa da Fundação Getúlio Vargas voltado às mulheres e cujo processo, extremamente concorrido, deixou para trás muitas candidatas.
Disposta a mudar esse panorama, ela criou a rede que, inicialmente, era um blog dedicado à tirar dúvidas de empreendedoras e aspirantes de todo o Brasil. Logo, Fontes se viu atendendo, como mentora, cerca de 700 mulheres por ano.
Nesse sentido, ela destacou a importância de figuras femininas na liderança se disporem ao processo de mentoria para inspirar e engajar toda uma comunidade.
"Mentoria é uma via de mao dupla. Quando você vê a empreedora aplicando o que você ensinou, você tem muitos aprendizados com as histórias de histórias de negócio. Você entende na pele qual é a reliadade, quais são as dificuldades e o que realmente pega no negócio", disse Fontes.
Por fim, Galloni e Fontes ressaltaram que o benefício de investir nas mulheres empreendedoras vai muito além dela mesma, mas sim a todos que estão em seu entorno.
"Tem muita oportunidade para que nós enquanto sociedade e organizações, apoiemos mais o empreendedorismo feminino. O retorno vai ser muito bom. A maioria cresce, aproveita os recursos, investe e traz mais resultados", afirmou Galloni.
"Quando uma mulher dá certo, a mulher do lado dá certo também, os filhos ficam melhores e a comunidade vai melhorar", completou Fontes.
Sobre a rede Mulher Empreendedora
A rede é a maior de apoio ao empreendedorismo feminino no Brasil. Existe desde 2010 e já beneficiou mais de 9 milhões de mulheres.
Nesse sentido, a rede promove programas de aceleração, cursos de capacitação e eventos de apoio para quem quer empreender.
Além disso, a rede conta com um marketplace com quase 1.700 empresas cadastradas.