Queda no preço das commodities ajuda a conter inflação global
Recuo de preços dos produtos e matérias-primas é explicado pela aparente desaceleração do crescimento nas principais economias
12/07/2022A redução dos estímulos fiscais e o ciclo de aumento da taxa de juros em vários países deverão arrefecer o consumo das famílias e o investimento das empresas ao longo dos próximos trimestres.
Além disso, o aperto da política monetária somado a alguns choques de oferta e baixa nos preços das matérias-primas devem segurar a escalada da inflação, que tem sido o grande desafio de diversos países. As projeções estão em relatório sobre o cenário macroeconômico divulgado pelo Banco Safra.
Saiba mais
- O aumento dos gastos públicos e os rumos da economia
- Federal Reserve indica nova alta de juros de até 0,75 ponto no fim do mês
- Receba diretamente as análises do Banco Safra pelo Telegram
Conforme a análise, nos Estados Unidos, o fim dos estímulos fiscais desde o início desse ano já tem prejudicado o poder de compra das famílias. Enquanto a massa salarial nominal expandiu 10,1% nos últimos 12 meses, a renda disponível nominal avançou apenas 2,8% no mesmo período.
Descontando a elevada inflação, a renda disponível real caiu 3,4% em doze meses, ou seja, houve redução do poder de compra pessoal.
Dessa forma, o consumo das famílias começou a apresentar os primeiros indícios de arrefecimento nos últimos meses, que será reforçado pelo aperto da política monetária pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e, consequentemente, deverá prejudicar a receita das empresas.
Por outro lado, os custos de produção aumentaram substancialmente no último ano, com a elevação dos salários em 5,1% e o aumento dos preços ao produtor em 16,7%.
Nesse ambiente, a confiança dos empresários começou a deteriorar e as novas encomendas de produtos manufaturados diminuíram no mês passado.
Sendo assim, o Safra reiterou a projeção de crescimento do PIB estadunidense a preços constantes de apenas 0,5% em 2023, abaixo do consenso em torno de 1,6%.
Na Zona do Euro, os efeitos do conflito no leste europeu, especialmente o risco de desabastecimento de gás natural, reduziram substancialmente a confiança dos empresários, o que prejudicará a demanda por mão de obra e as condições do mercado de trabalho.
A confiança dos consumidores também tem deteriorado e retornou para patamar semelhante do ocorrido no auge da pandemia. A atividade da região deverá desaquecer nos próximos meses.
Na China, a atividade deverá ser beneficiada no curto prazo pela redução das medidas de isolamento social. Olhando para o médio prazo, não vislumbramos uma aceleração relevante do consumo das famílias e nem dos investimentos.
Commodities
No caso do setor imobiliário, o preço das residências continua em queda e não deve atrair volumosos recursos para novos projetos.
Dessa forma, o Safra vê a economia mundial desaquecendo. Nesse novo ambiente, a demanda por commodities metálicas utilizadas na produção de bens industrializados e insumos para a construção civil deverá recuar nos próximos meses.
O preço do cobre já caiu cerca de 25% nos últimos três meses, o que segundo o banco é historicamente coincidente com redução das encomendas de produtos manufaturados.
A redução do preço das commodities por um período prolongado prejudicará o saldo comercial dos países exportadores desses produtos e, consequentemente, suas moedas tendem a desvalorizar.
O Peso chileno (CLP) já depreciou cerca de 17% nos últimos 30 dias. Por outro lado, a redução do preço das commodities ajudará a conter o processo inflacionário mundial, especialmente nos bens industrializados, diz o Safra
Enfim, o aperto da política fiscal e monetária, e alguns choques de oferta, começam a desaquecer a demanda mundial, com reflexos nos preços das matérias-primas, que ajudam a reduzir a inflação no médio prazo. Esse é um dos tradicionais canais de transmissão da política econômica.