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Safra revisa projeção de inflação para 6,4% em 2021

Aumento do custo da energia elétrica, na esteira da crise hídrica, ajuda a elevar projeção do IPCA deste ano, que antes estava em 6%

Pessoa pagando compras de mercado em caixa com cartão de crédito, alusivo à inflação 2021

Por outro lado, a projeção do Safra para o IPCA em 2022 reduziu de 3,7% para 3,3% | Foto: Getty Images

O Banco Safra divulgou nesta segunda-feira, 5, uma nova projeção para o IPCA, indicador oficial da inflação do País, ao final de 2021.

Antes previsto pra fechar em 6%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo deve terminar em 6,4%.

A mediana das projeções coletadas pelo Banco Central no Relatório Focus é hoje de 6,1%. O teto da meta da instituição para 2021 é 5,25%.

Por outro lado, a projeção do Safra para o IPCA em 2022 passou de 3,7% para 3,3%, com uma faixa de risco de 0,3 ponto porcentual.

Na visão do Safra, a projeção de alta nos preços para este ano é impulsionada pela energia elétrica na esteira da crise hídrica.

Na última semana, a Agência Nacional de Energia Elétrica, a Aneel, decidiu revisar os valores cobrados de todas as bandeiras tarifárias, um procedimento que costuma acontecer anualmente, no segundo trimestre.

Para a bandeira vermelha patamar 2, que vigora atualmente, a revisão elevou o valor cobrado de R$ 62,40 megawatts/hora (MWh) para R$ 94,90/MWh, com efeito imediato.

O reajuste impactou diretamente a conta de luz dos brasileiros, que ficou mais cara.

Impactos da conta de luz na inflação de 2021

A pressão da conta de luz sobre a inflação vinha sendo prevista pelo mercado.

Com isso, o consumidor enfrentará um aumento de 52%. No entanto, sua conta de luz aumenta bem menos do que isso, pois a mesma inclui outros fatores, como o custo de distribuição, que não sofreram aumento.

Nesse sentido, a Aneel abriu consulta pública para debater com a sociedade possíveis alterações na metodologia da definição das bandeiras.

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O Safra acredita que após o período de contribuições à consulta, os diretores da Aneel definirão um valor ainda mais alto para a bandeira vermelha patamar 2, ao redor de R$ 115/MWh.

Segundo a agência, esse valor adicional cobriria o custo da energia térmica e outras fontes que estão sendo despachadas para compensar o déficit na produção hidroelétrica, de custo mais barato.

Assim, o banco prevê que a inflação de energia elétrica suba para 8,3% em julho.

Considerando o ano cheio de 2021, o Safra projeta uma alta de 17% para esse item, o que tem como hipótese a manutenção da bandeira vermelha patamar 2 até o final de dezembro.

Previsões em elevação

Ao longo do primeiro semestre, a mediana das projeções dos economistas para a inflação de 2021 subiu de 3,3% em janeiro para perto de 6% no final de junho.

Esse movimento é explicado, entre outros fatores, pela alta do preço internacional do petróleo, que passou de US$ 50 para US$ 75 por barril no período e causou uma alta de quase 25% nos preços de combustíveis nos postos, como gasolina e etanol.

Além disso, houve efeitos indiretos do aumento do óleo diesel, com reajuste em magnitude próxima.

Os preços de produtos alimentícios também pressionaram a inflação no período. A cotação de grãos, como soja e milho, registrou forte alta durante o final de 2020 e o primeiro semestre de 2021.

Outras commodities, como a carne de boi e o arroz, tiveram expressiva aceleração de preço no mercado doméstico desde o começo do ano passado.

Com isso, os preços de alimentos subiram 20% entre fevereiro de 2020 e maio de 2021, com esse choque sendo constantemente destacado nos discursos de diretores do Banco Central.

Inflação em outros setores

O relatório do Safra destaca que a inflação de serviços permanece estável, com a ociosidade no mercado de trabalho e as medidas de isolamento social.

O banco projeta aceleração desses preços ao longo dos próximos meses, com o repasse de custos e o retorno de demanda em segmentos que dependem mais da interação social, como turismo e restaurantes e mesmo serviços pessoais.

Aqui, a incerteza segue maior que a habitual e pode ocorrer um repasse ainda mais rápido do que o esperado, o que geraria um risco altista em torno de 0,3 ponto porcentual na estimativa da instituição para a inflação de 2021.

Saiba mais

O IPCA mais alto neste ano tem implicações para a inflação projetada para 2022.

Altas de preços costumam elevar a inflação dos preços livres nos períodos seguintes, por conta dos efeitos defasados nos custos das empresas e de reajustes nas expectativas de inflação.

No caso de preços administrados em que o choque seja resultante de fatores temporários, como os da energia atualmente, pode-se dar o contrário quando se abstraem os efeitos secundários, pontua o Safra.

Alívio em 2022

Caso a temporada de chuvas do próximo verão seja benigna, o ano de 2022 pode terminar com uma bandeira correspondente a uma tarifa mais baixa, prevê o Safra.

Caso o patamar da bandeira não mude, o Safra projeta que, ao menos, a tarifa da bandeira vermelha patamar 2 pode ter seu valor revisado para baixo, o que poderia trazer um alívio de 0,35 ponto porcentual no IPCA de 2022.

O banco pondera que pode haver ainda estabilização ou mesmo a queda de muitos preços agrícolas nos próximos 18 meses.

Exemplo dessa queda está no preço do arroz, que já teve 35% de redução na coleta ao atacado comparado com outubro do ano passado, e um movimento semelhante pode ocorrer com a carne bovina se as exportações tiverem menor aumento ou até diminuírem.

Em suma, o Safra espera por uma reversão parcial do choque altista de alimentos no próximo ano, ainda que se deva ter cautela por conta de riscos climáticos já identificados, como o La Niña.

A volatilidade de preços de grãos no mercado internacional deve-se em parte à redução de estoques nos Estados Unidos, na esteira da guerra comercial com a China, que desestimulou a produção americana, até pelos auxílios pagos pelo governo aos produtores dos EUA.

Finalmente, a inflação de serviços pode acelerar mais do que o previsto em 2022, dependendo da renda disponível e do aumento da mobilidade se houver ampla superação da pandemia.

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