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Transição energética: vantagens competitivas do Brasil em fontes renováveis

Estudo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável relaciona as vantagens do Brasil na era da descarbonização do setor energético

transição energética

Estudo destaca que a capacidade brasileira de produzir energia de baixo carbono poderá trazer uma grande vantagem comparativa nos próximos anos | Foto: Getty Images

A extensão territorial do Brasil, as condições climáticas e a experiência com diversas fontes de energias renováveis representam importantes vantagens para o país quando o assunto é descarbonização do setor energético. Um estudo que acaba de ser divulgado mostra na prática como empresas de vários setores podem acelerar seu processo de transição energética.

O “Roadmap: Os Caminhos do Setor Empresarial Brasileiro na Transição Energética Nacional” apresenta uma série de soluções que empresas já estão adotando para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa no Brasil. O relatório analisa oportunidades e desafios e foi elaborado pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), em parceria com a consultoria PSR. A pesquisa contou com entrevistas de representantes de 22 grandes companhias de diversos setores da economia com atuação no Brasil, como mineração, bebidas e alimentos, cimento, aço, transporte aéreo, gestão ambiental, energia e indústria automotiva.

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As soluções apresentadas aliam a redução de emissões de gases de efeito estufa e oportunidades de negócios, e vão desde tecnologias já disponíveis que podem ser implantadas em diversos setores até soluções promissoras para atividades em que a descarbonização se mostra um desafio maior. O relatório se aprofunda nas possibilidades e desafios para as indústrias química, de cimento, óleo & gás e de aço. Em todos os casos, há diversas soluções que poderiam ser aplicadas no Brasil.

O estudo também destaca que a capacidade brasileira de produzir energia de baixo carbono poderá trazer uma grande vantagem comparativa: assim como no passado a energia barata fez do Brasil um grande exportador de alumínio e outras indústrias que usam grande quantidade de energia, o Brasil pode aproveitar sua capacidade de expansão de fontes renováveis para exportar produtos que deverão ser fortemente demandados globalmente, como o hidrogênio verde e combustíveis sintéticos, além de descarbonizar setores de sua economia a partir de eletrificação direta, como no caso da indústria e transporte.

Outros pontos destacados são a busca das empresas por maior eficiência operacional como forma de reduzir as emissões diretas de suas operações (Escopo 1), as emissões indiretas, relativas à compra de eletricidade (Escopo 2) e a imposição de requisitos de boas práticas socioambientais para a cadeia de fornecedores para reduzir as emissões de Escopo 3. Este último é o ponto mais desafiador, já que envolve mudanças nos processos dos fornecedores de cada companhia.

“Uma expansão ampla de fontes renováveis, especialmente solar e eólica, é tecnicamente viável e economicamente desejável, por ser a opção mais econômica para o consumidor de energia elétrica. Um aspecto estratégico é a complementaridade entre a energia eólica – que aumenta à noite – e a energia solar, o que permite um uso compartilhado das instalações de transmissão. Atentas ao potencial brasileiro para a expansão de fontes renováveis no setor elétrico, diversas empresas estão buscando novos projetos”, analisa Viviane Romeiro, diretora de Clima, Energia e Finanças Sustentáveis do CEBDS.

O estudo busca apontar as principais barreiras e desafios a serem superados para a transição energética. Um dos pontos a serem destacados é que, em muitos casos, o Brasil precisará desenhar a regulação e mecanismos para viabilizar o início de mercados específicos, como no caso das eólicas no mar (“offshore”).

O trabalho teve a participação das seguintes empresas: Ambev, Ambipar, Anglo American, Azul, Bamin, Be8 (antiga BSBIOS), Braskem, CBA, Elera Renováveis, Eletrobras, Energisa, Eneva, FS Bioenergia, Future Carbon Group, Neoenergia, Norte Energia, Schneider Electric, Shell, Siemens Energy, Solví, Toyota e Votorantim Cimentos.

Conclusões do relatório sobre descarbonização do setor energético no Brasil

O relatório apresenta diversas opções de descarbonização do setor energético brasileiro, avaliando as vantagens comparativas do país. As características do Brasil permitem que uma grande variedade de soluções possam ser consideradas, dada a disponibilidade de recursos naturais para produção competitiva de energia elétrica renovável, de biomassa, seja ela oriunda de florestas sustentáveis ou resíduos de atividades agrícolas (ex. setor sucroalcooleiro), de biocombustíveis ou biogás/biometano e produtos derivados.

Em muitos casos, as condições de mercado permitem o desenvolvimento deste potencial, ainda que sempre seja possível aperfeiçoá-las. Ao contrário do Brasil, nos EUA, por exemplo, um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento de fontes renováveis é a dificuldade de construção de novas linhas de transmissão, que são fundamentais para conectar os locais com melhores recursos aos centros de consumo de energia.

O relatório também apontou possibilidades de novos negócios para o país que podem ser alavancadas tanto por demandas internas, como pelos mercados externos. O interesse de mercados em descarbonizar suas economias e aumentar a segurança energética através de uma diversificação de fontes/recursos e promoção de fontes renováveis vem se tornando cada vez mais evidente, principalmente com as metas assumidas para redução de emissões e, mais recentemente, com a estratégia europeia de reduzir sua dependência de energéticos importados da Rússia.

Este momento pode ser uma oportunidade de ouro para as empresas do Brasil para a produção de hidrogênio verde ou biocombustíveis convencionais ou avançados (diesel verde ou bioquerosene de aviação, por exemplo),
aço verde, dentre outros.

Este mercado global de combustíveis de baixo carbono deverá ser impulsionado também por compromissos de empresas privadas ou setores, como o de aviação, ou transporte marítimo. Assim, haverá uma menor dependência de mandatos governamentais, que são mais sujeitos a mudanças provocadas por questões políticas e econômicas.

As entrevistas feitas com representantes de empresas associadas ao CEBDS de segmentos distintos da economia proporcionaram uma visão clara das estratégias privadas em curso para ampliar negócios e, ao mesmo tempo, reduzir emissões de gases de efeito estufa para atendimento de metas corporativas já anunciadas.

Em comum percebe-se uma busca por maior eficiência operacional como forma de reduzir emissões de Escopo 1, consumo de energia elétrica produzida 100% a partir de fontes renováveis (Escopo 2) e, talvez o caso mais desafiador, imposição de requisitos de boas práticas socioambientais para a cadeia de fornecedores de forma a lograr uma redução das emissões de Escopo 3. Neste último caso, há uma diversidade de políticas em curso, desde incentivos às boas práticas, como a premiação de fornecedores, até a definição de requisitos compulsórios que precisarão ser atendidos nos próximos anos.

Notou-se ainda, no caso das empresas com operações globais, que o Brasil é percebido como um país com grandes oportunidades para o atendimento de metas de redução de emissões globais e investimento em fontes renováveis de energia com tecnologias já bastante empregadas no país (ex.solar fotovoltaica e eólica onshore) ou tecnologias promissoras (ex. eólicas offshore, potencialmente acopladas à produção de hidrogênio verde). Estas
possibilidades são especialmente interessantes para as empresas de óleo e gás que vem migrando seus negócios para se tornarem empresas integradas de energia.

Além de destacar as vantagens comparativas do Brasil, o estudo buscou, sempre que pertinente, apontar as principais barreiras e desafios a serem superados. Em muitos casos, o Brasil precisará desenhar a regulação e mecanismos para viabilizar o início do mercado. Um caso nítido é o das eólicas offshore: apesar de uma oferta enorme ter sido apresentada pelo setor elétrico, a regulação ainda precisa ser estabelecida considerando-se requisitos, compartilhamento de infraestrutura de transmissão, requisitos para o licenciamento ambiental, dentre outros.

Sem ter a pretensão de quantificar as emissões evitadas de cada opção ou como se distribuirão no tempo, o relatório mostra como o setor empresarial brasileiro poderá se beneficiar da transição Net Zero 2050. Espera-se que este relatório ajude a comunicar e debater estas opções existentes no Brasil.

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