Para Fábio Barbosa, ações sustentáveis garantem lucro a longo prazo
Integrante de conselhos de administração de grandes empresas, executivo diz que Brasil tem enorme potencial no mercado de créditos de carbono
15/03/2022O Brasil tem um grande potencial no mercado de créditos de carbono, que em mercados desenvolvidos, como o europeu, já movimenta trilhões de dólares em recursos. A opinião é do executivo Fábio Barbosa, membro do conselho de administração de empresas como Ambev, Natura e Itaú Unibanco.
Ele defende a iniciativa privada brasileira sobre as questões ligadas à sustentabilidade, em entrevista da série Cenários, realizada pelo Safra e pelo Estadão. Membro conselho da Fundação das Nações Unidas, ele afirma que as empresas brasileiras estão avançando em ações que visam a proteção da Amazônia e no rastreamento de seus fornecedores para que estejam em linha com as normas sustentáveis.
Recentemente, o governo do Rio de Janeiro anunciou uma parceria com a Nasdaq, de Nova York, para a criação de uma bolsa de valores de carbono no Estado.
“O Brasil é um grande emissor de carbono devido ao desmatamento ilgela, mas nossa matriz (energética) é limpa. A Europa e EUA têm matrizes sujas e precisam reduzir ou compensar esse carbono. Além de reduzir o desmatamento ilegal, o País é o único que tem extensão para promover o reflorestamento e absorver carbono em grandes quantidades, vendendo os créditos para outras nações”.
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Segundo Fábio Barbosa, esse trabalho acompanha a mudança de comportamento e visão de três grandes grupos de agentes econômicos: consumidores, investidores e trabalhadores.
“Os consumidores mudaram seu comportamento, principalmente os jovens, que querem saber de onde vem cada coisa que eles consomem. Tem o ponto do investidor, onde também há jovens que não querem investir em empresas que desmatam, por exemplo. E o terceiro ponto são os talentos. As pessoas querem trabalhar numa empresa que comungue com a visão sustentável”.
Nesse sentido, Fábio Barbosa destaca que as empresas, em sua maioria, têm aderido em massa às ações de cunho ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) tanto por convicção quanto por conveniência.
Porém, há as companhias que acabam por entrar na questão verde pela via do constrangimento, uma vez que “o movimento é irreversível e crescente”, de acordo com Barbosa.
“O objetivo da empresa não é maximizar o lucro daquele ano, mas perenizar o lucro. As empresas que não estiverem atentas, vão ficar fora do mercado”.
Fiscalização e créditos de carbono
Na visão do executivo, para que o Brasil tome de vez a frente da corrida para se tornar uma potência sustentável é necessário criar um órgão regulador que apoie na fiscalização do cumprimento de padrões ESG nas corporações em território nacional.
Isso ajudaria a diminuir ainda mais o processo de greenwashing, quando uma empresa cria uma narrativa de sustentabilidade sobre uma ou mais atividades, mas realiza o contrário.
"Não tem mais on e off, a empresa está on o tempo todo. Quando a empresa diz que vai fazer alguma coisa, é bom ela fazer. Várias estratégias que eram greenwashing vão se desmontando. À medida que a empresa entra nisso e fala publicamente, ela vai se colocando num beco sem saída, o que é ótimo", disse Barbosa.
A conversa completa com Fábio Barbosa pode ser assistida pelo vídeo no canto superior à direita. Todas as entrevistas da série Cenários podem ser assistidas aqui.