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Banco Central mantém juros em 13,75%, apesar da pressão do governo

Expectativa do mercado é de redução da taxa Selic a partir de agosto, mas o comunicado do Banco Central não descarta elevar ainda mais os juros

Bacen

Para o Safra, o BC deve diminuir os juros nas próximas reuniões, levando a Selic para 11,25% até o final do ano | Foto: Getty Images

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mantever os juros em 13,75% ao ano. Em setembro do ano passado, a autoridade monetária decidiu subir os juros no Brasil em 0,25 pontos porcentais e, desde então, manteve a Selic no atual patamar.

Diante das expectativas de inflação ainda elevadas no mercado financeiro, a autoridade monetária decidiu manter inalterada a taxa básica de juros (taxa Selic). O comunicado divulgado pelo Banco Central adverte que os juros podem subir ainda mais: “O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já havia dado sinais de que ainda considera prematuro iniciar o ciclo de baixa da taxa Selic. Segundo ele, os núcleos da inflação continuam elevados e o corte nos juros “deve ser feito com responsabilidade”.

Para o Banco Safra, o Banco Central deve diminuir os juros nas próximas reuniões, levando a Selic para 11,25% até o final do ano. No entanto, a expectativa do mercado é menos otimista. As apostas são de baixa nos juros a partir de agosto.

Para Patrícia Krause, economista para América Latina da Coface, os juros devem fechar o ano em 12,75%, mas a redução da Selic deve começar apenas em setembro.

“As sinalizações do Banco Central indicam que o movimento de baixa não acontecerá nas próximas reuniões, mas apenas no segundo semestre deste ano”, disse Krause.

Alexandre Pierantoni, diretor da Kroll no Brasil, acredita que os juros ao final do ano devem girar entre 11% e 11,5%. “É uma redução em relação ao patamar atual, mas ainda é uma taxa muito alta e que não deve atrair o investidor para o mercado de capitais”, disse.

Para ele, a Selic deve começar a cair somente no segundo semestre, mas com mais força. “Juros em um dígito acredito que veremos somente a partir de julho de 2024. Mas, à medida que o Banco Central comece a sinalizar que pode manter o ciclo de baixa, muda o comportamento do mercado”, ressaltou.

Íntegra do comunicado do Copom sobre a taxa de juros:

“O ambiente externo se mantém adverso. Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho. A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se marginalmente e encontram-se em torno de 6,1% e 4,2%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,8% em 2023 e 3,6% em 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,8% em 2023 e 5,2% em 2024. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para 2024.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; (ii) a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco; e (iii) uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local; (ii) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global; e (iii) uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.

Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária.  O Copom enfatiza que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, e avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas.

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária. O Copom enfatiza que, apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes. 

* No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 5,05, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2023 e de 2024. O valor para o câmbio é obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.”

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